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Quarta, 02 de Fevereiro 2022

Personagens paulistas: Monteiro Lobato, precursor da literatura infantil brasileira

Em entrevista à Anoreg/SP, a bisneta do autor, Cléo Lobato, falou sobre a personalidade do primeiro escritor dedicado à literatura infantil.

No século XX, o interior de São Paulo contava como um dos seus habitantes um crítico jornalista, influente escritor, advogado e pioneiro na literatura infantil do país: Monteiro Lobato. Vítima de um acidente vascular cerebral aos 66 anos, Lobato deixou de legado suas grandiosas obras de teor educativo. O percursor da literatura infantil é o destaque desta reportagem produzida pela Associação dos Notários e Registradores do Estado de São Paulo (Anoreg/SP).

Nascido em 18 de abril de 1882, em Taubaté, cidade do interior do estado de São Paulo, José Bento Monteiro Lobato, ou Monteiro Lobato, filho de José Bento Marcondes Lobato e de Olímpia Monteiro Lobato, era um homem movido em prol da comunicação e da produção de pensamento crítico. “Ele mudou o jeito de escrever para crianças. Lobato colocou o ponto de vista e o empoderamento das crianças em suas obras”, destaca a bisneta de autor, Cléo Lobato. “Não o vejo como precursor, mas sim, como o pai da literatura infantil”, completa.

Da educação em casa para o grande redator do Largo de São Francisco

Alfabetizado pela mãe até os sete anos de idade, Monteiro Lobato ingressou no ensino fundamental em 1889, quando frequentou o Colégio Kennedy, o Colégio Paulista e o Colégio Coração de Jesus, no ginásio, onde escreveu os seus primeiros artigos, sob o pseudônimo de Josbém, para o jornal estudantil O Guarani.

No início de sua adolescência, em 1895, Lobato transferiu-se para a capital paulista visando concluir os seus estudos preparatórios para ingressar no ensino superior. Durante este período, destacou-se por sua participação nos jornais O Patriota e A Pátria e nas Sociedades Literárias. Nesta época, Lobato já tinha as “palavras” como uma de suas paixões.

Finalizando os estudos na capital, Monteiro Lobato prestou exames para o Curso Anexo, visando ingressar na Faculdade de Direito, mas acaba sendo reprovado em português e retornou à Taubaté para continuar estudando da sua cidade natal.

Em junho de 1898, Lobato perde seu pai, e passa a morar com as irmãs, Esther e Judith Lobato na casa do avô materno, José Francisco Monteiro, o visconde de Tremembé, o qual induzia Monteiro a fazer direito e deixar a sua paixão pela escrita de lado.

No ano seguinte, aos 17 anos, Monteiro Lobato também perde a sua mãe, e mesmo com grandes perdas recentes, Lobato não desistiu de escrever e estudar, e mudou-se para São Paulo para realizar as suas vontades.

Nos primeiros meses de 1900, Lobato efetua os exames para ingressar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e é aprovado. Cursando advocacia, divide-se entre a sua paixão pela escrita, e torna-se presidente da Arcádia, sociedade literária dos segundanistas da Faculdade.

Com apenas um ano na instituição de ensino superior, Lobato passa a colaborar no jornal da Faculdade com suas crônicas e críticas teatrais.

O gosto pela escrita é tão grande que, em 1903, Lobato ajuda a criar o Jornal Mirante da região de Pindamonhangaba, colabora como colunista no jornal O Povo, de Caçapava, e participa da comissão de redatores do jornal da faculdade, O Onze de Agosto, onde conquistou o primeiro lugar no Concurso Literário com o seu conto “Gens ennuyeux”.

Em 15 de dezembro de 1904, Monteiro Lobato se forma em Direito.

Taubaté: O início do reconhecimento literário

Após se formar, Lobato retorna à Taubaté no início de 1905. O novo advogado da cidade, continua apaixonado pela escrita e passa um ano produzindo artigos de crítica de arte para o Jornal de Taubaté e o jornal de Caçapava, O Combatente. Em abril daquele ano, Lobato conhecia Maria da Pureza de Castro Natividade, com quem se casaria e teria quatro filhos, Martha, Edgard, Guilherme e Ruth.

Após um ano escrevendo na cidade natal, Lobato é nomeado promotor público do município, sendo efetivado em 1907 para a promotoria de Areias, interior de São Paulo. Durante sua experiência no cargo público, Lobato dedicou-se a escrever contos e artigos para jornais do interior e a traduzir matérias do Weekly Times para O Estado de S. Paulo. “Lobato não foi só o pai da literatura infantil brasileira, ele foi uma pessoa que falou dos interesses dos estrangeiros e da independência brasileira”, conta Cléo Lobato.

Querendo deixar a vida pública, em 1910, Monteiro Lobato começou a colaborar com A Tribuna, de Santos, litoral sul de São Paulo, e a Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro e do Distrito Federal, mas apenas suas palavras não eram suficientes para garantir o sustento de sua família, e quase desistiu da literária e do jornalismo naquele período.

Em março de 1911, o seu avô, o visconde de Tremembé, faleceu e deixou a Lobato e as suas irmãs uma herança equivalente a 5 mil hectares, localizada na Serra da Mantiqueira. Agora dono de uma fazenda, Lobato passa atuar e morar na aérea agrícola, abandonando sua trajetória pública.

Nos anos seguintes, embora empenhado no setor de agricultura, Lobato não se afastou das atividades literárias, dedicando-se à leitura dos clássicos e a escrever artigos para jornais. Em novembro de 1914, durante um invento seco em Mantiqueira, Lobato enviou para a seção Queixas e Reclamações do jornal O Estado de S. Paulo um artigo chamado “Velha Praga”, onde descreveu suas principais dificuldades na gerência da produção rural e os problemas provocados pelos colonos, especialmente os incêndios. O artigo gerou muita polemica e passou a ser desdobrado no mês seguinte pelo jornal, renomeado como “O caboclo e o urupê do pau podre que vegeta no sombrio da mata”.   Observando a repercussão, Lobato decidiu elaborar um artigo sobre os caboclos que trabalhavam em sua propriedade. E assim nascia um de seus mais famosos personagens, o Jeca Tatu em Urupês.

“É muito atual toda a problemática que Lobato fala sobre as queimadas em “Urupês”. Não só esta obra, mas como nas demais também. As temáticas retratam o que vivemos hoje”, destaca a bisneta.

Mesmo escrevendo sobre a sua experiência como administrador da fazenda, Monteiro Lobato não conseguiu gerenciar a propriedade e vendeu para o Alfredo Leite, de Vila Paraguassú em 1917. Com a venda da propriedade, a família Lobato muda-se para São Paulo.

O gigantesco Lobato na imprensa Brasileira

Em junho de 1918, Monteiro Lobato lançou seu primeiro livro, reunindo os seus artigos e contos já publicados, inclusive Urupês, que deu nome à coletânea. A primeira edição se esgotou um mês depois do lançamento. Atualmente, o livro é considerado a obra-prima do escritor e um clássico da literatura brasileira.

Durante esse período, Lobato realizou uma pausa nas atividades literárias e utilizou o seu tempo na Editora Monteiro Lobato, uma editora de livros que fundou após a venda da fazenda e do livro Urupês. “Monteiro Lobato foi o primeiro a encomendar as máquinas de imprensa para o Brasil”, destaca a bisneta. A Editora Monteiro Lobato publicava e comercializava obras de autores novos e até mesmo os já consagrados, como Oswald de Andrade, Ribeiro Couto, Menotti del Picchia e Gilberto Amado.

Nesta época, Lobato aproveitou sua empresa para reeditar seus artigos antigos, e os reunindo nos livros Cidades Mortas, Idéias de Jeca Tatu e Onda verde.

De Lobato para as crianças

Em dezembro de 1920, Monteiro Lobato lançou o seu primeiro livro para crianças “A menina do narizinho arrebitado”, -um grande sucesso, que deu origem ao Sitio do Pica-Pau Amarelo – com algumas histórias infantis e desenhos inéditos para crianças. “Ele estava muito desiludido com os adultos e o cenário político, e daí surgiu a ideia de escrever para crianças, já que as crianças são o futuro do país”, conta a bisneta. Nos anos seguinte, Lobato dedicou-se as obras infantis, lançando O Saci (1921), um enorme sucesso, que alcançou uma vendagem de 50 mil exemplares e O marquês de Rabicó (1922).

Em 1923, buscando dar continuidade no sucesso da sua editora, Lobato publicou O macaco que se fez homem e O mundo da lua, para os adultos. Ensinou no ano seguinte, noções de higiene e saneamento às crianças, nos livros “A Caçada da onça” e “Jeca Tatuzinho”. “Lobato influenciou as gerações de 40 e 50. As crianças que leram seus livros antigamente, hoje viraram presidente da república, senadores e chefes de empresa”, destaca Cléo Lobato. “Por meio da literatura, essas pessoas desenvolveram pensamento crítico e criatividade para solucionar os problemas”, completa.

Naquele mesmo ano, durante uma ocupação de rebeldes na cidade, as atividades econômicas de São Paulo seriam abaladas e prejudicaria a editora de Lobato, fazendo que decretasse falência no início de 1925. Com o restante dos recursos que lhe restava, Monteiro Lobato juntou-se com outros empresários para fundar a Companhia Editora Nacional, e precisou mudar-se com a família para o Rio de Janeiro, onde elabora uma série de artigos como “Os diálogos com mister Stang” e “O choque de raças”, para “O Jornal”. Anos depois, as séries seriam publicadas em forma de livro.

Apenas em 1927, Lobato volta a dedicar-se ao público infantil, lançando adaptação de “Meu Cativeiro entre os Selvagens do Brasil” para o público infantil.

Adeus ao precursor da literatura infantil

Escrevendo até os 65 anos, Monteiro Lobato publicou mais de 30 obras, sendo 24 apenas para o público infantil. “Lobato foi um homem muito dedicado, mas não viveu apenas da literatura. 70% de suas ações eram em busca do progresso do Brasil e do saneamento básico”, conta a bisneta.

Na madrugada de 4 de julho de 1948, às 4 horas, o percurso da literatura infantil falece em casa após sofrer um derrame. Lobato foi velado na Biblioteca Municipal de São Paulo e sepultado no Cemitério da Consolação, onde mais de dez mil pessoas cantaram o Hino Nacional em sua homenagem.

O registro de óbito de Monteiro está sendo preservado no 7º Cartório de Registro Civil da Consolação o que reforça a importância das serventias do Registro Civil na contação da história de personalidades influentes do país.

Fonte: Assessoria de Comunicação – Anoreg/SP

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