Neste inicio de ano o governo anunciou um pacote de medidas para
abrandar a burocracia nacional. Entre as medidas com destaque surgiu a
proposta de se eliminar o reconhecimento de firmas em documentos a
serem apresentados nas repartições públicas. Sempre que se fala em
burocracia os cartórios são o alvo preferido, como símbolos maiores deste
mal. Vejamos então a questão sobre outro ângulo: Em primeiro lugar é
preciso que se esclareça que o reconhecimento de firma não é solicitado
pelo tabelionato de notas, mas sim feito neste cartório, por solicitação de
vários órgãos públicos e empresas. O reconhecimento de firma existe para
dar garantia que, aquela pessoa efetivamente assinou um documento. Na
medida anunciada pelo governo aqueles que não querem reconhecer firma
deverão deslocar-se pessoalmente ao órgão público para que o funcionário
o identifique e colha sua assinatura. Imaginemos então um caso típico
como a venda de um veículo, o vendedor teria então duas opções. Ou iria
pessoalmente ao Detran ou, no caso de Curitiba, a qualquer um dos 31
tabelionatos de notas espalhados pela cidade. Neste caso, teria um custo
atual de R$ 4,93 como pagamento pelo serviço ao tabelião. Analisando
outra situação hipotética de um contrato de locação de imóvel, o fiador,
poderia deslocar-se pessoalmente a imobiliária e assinar o contrato perante
o funcionário da mesma, que deverá identificá-lo. Ou solicitar que alguém
vá ao tabelionato e reconheça sua firma. Resta então a pergunta. O
reconhecimento de firma é uma burocracia ou uma opção de conforto à
população? Uma falácia bastante difundida é que reconhecimento de firma
e cartório só existem no Brasil. Pois saibam, caros leitores que é raríssimo
encontrar um país onde não exista a profissão do tabelião de notas e
consequentemente o reconhecimento de assinaturas. Num mundo ideal não
deveria haver reconhecimentos de firmas nem autenticações, nem chaves
em nossas casas e automóveis. A segurança é sempre algo que nos custa
um certo desconforto, mas como prevenção é invariavelmente, mais em
conta do que a fraude consumada. Os cartórios são serviços públicos
privatizados pelo Estado, para auxiliá-lo na prestação de uma atividade
preventiva de litígios nos atos da vida civil do cidadão. Prestam
diariamente milhares de consultas gratuitas sobre aquisição de imóvel,
inventários, testamentos e vários outros assuntos necessários nos regimes
democráticos. Evitam com isso e através de escrituras públicas, que litígios
terminem no judiciário, sendo portanto fundamentais na pacificação social
e na economia dos países. A propósito, no Paraná há sete anos que os
cartórios não tem reajuste nos preços de seus serviços, sendo por isso um
dos mais baratos de todo o Brasil. Num concurso público, recentemente
realizado pelo Tribunal de Justiça do Paraná para cartórios, cerca de 20 não
foram preenchidos por desinteresse dos candidatos aprovados, visto que
são deficitários. Estes, encontram-se em cidades do interior e ainda não se
sabe como seus habitantes irão resolver seus problemas de reconhecimento
de firmas, registros de nascimentos, óbitos e tantos outros prestados por
esses profissionais do direito. Talvez para quem os tenha sempre á
disposição, praguejá-los seja muito cômodo, porém imaginar um mundo
sem eles é entregar-se à ineficiência dos serviços públicos e à insegurança
jurídica. A nosso ver solução para desburocratização, seria prever penas
severas àqueles que apresentam documentos adulterados em órgãos
públicos e nos próprios cartórios. Um exemplo clássico e que atinge nós
mesmos tabeliães é o rol de certidões necessárias para venda de imóveis
fornecidas pelos órgãos públicos e por outros cartórios. Bastaria que o
vendedor declarasse na escritura, sob pena de prisão que nenhum ônus
obsta a venda de seu imóvel. Garanto que uma medida como essa, surtiria
efeito muito maior que a bravataria de sempre contra os cartórios, feita
desde a época do então Ministro da desburocratização Hélio Beltrão. O
Brasil é o país da fiscalização, do controle, das blitz, mas quando se pega o
infrator a pena é branda. Nos EUA é raro um policial parar um motorista
para pedir-lhe a carteira de motorista, não existem postos policiais nas
estradas como aqui. Teoricamente pode-se dirigir sem ter carteira e nunca
ser pego, os carros não tem placas na frente, pois presume-se a inocência,
porém quando há infração a pena é severíssima, não existe “jeitinho”.
Precisamos sim é acabar com a impunidade da minoria, ao invés de punir a
maioria com a burocracia.