Também chamada de síndrome de Takotsubo, doença cardíaca está relacionada a emoções negativas.
Um estudo realizado nos Estados Unidos aponta que aumentaram os casos de síndrome do coração partido nos últimos meses e sugere que a pandemia de Covid-19 tenha influência sobre essa alta.
A condição, também chamada de síndrome de Takotsubo, é o nome dado a um problema cardíaco que acontece quando a pessoa sofre uma emoção negativa muito forte, como o término de um casamento, a descoberta de uma traição, um acidente ou a perda de um ente querido. Acredita-se que excesso de adrenalina provado por este susto, por esta emoção forte, seja o responsável pelo mau funcionamento cardíaco.
Há muitas semelhanças com um infarto agudo do miocárdio. A pessoa sente dor no peito, a respiração fica curta, a pessoa começa a suar e pode ficar pálida. O eletrocardiograma aponta alteração, mas quando o indivíduo é submetida ao cateterismo, não existe obstrução coronariana e nem placas de ateromas.
A pesquisa primeiro observou quatro períodos anteriores ao início da aceleração do contágio do novo coronavírus em território norte-americano. Os casos da doença entre pacientes com problemas coronários tinham incidência que variava de 1,5% a 1,8%. Esses quatro ciclos foram comparados com os meses de março e abril, quando a pandemia entrou no foco da vida de muitos norte-americanos: a taxa saltou para 7,8%.
Foram analisados 1.914 pacientes em dois hospitais do estado de Ohio nos cinco períodos do estudo. Os pesquisadores sugerem uma relação dos casos de síndrome de coração partido com o estresse psicológico, social e financeiro provocado pela pandemia e pela quarentena. Os autores reconhecem que há limitações porque o universo da pesquisa é regional.
Especialistas ouvidos pelo G1 dizem que no Brasil a incidência da síndrome também pode estar alta durante a pandemia.
“Muito provável que o crescimento de casos possa ter múltiplas causas, mas durante a pandemia pode existir um agravo de estresses justamente por perdas”, afirma Evandro Tinoco Mesquita, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
A partir de junho, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) passou a coletar dados de 32 centros cardiológicos no país para criar um registro nacional de casos da síndrome. Com isso é possível identificar como a doença se comporta e quais as características das pessoas mais afetadas conforme as condições no Brasil.
Segundo a entidade, o único levantamento disponível no Brasil sobre a doença é um estudo regional com 169 pacientes com o diagnóstico de Takotsubo entre 2010 e 2017, em 12 hospitais do estado do Rio de Janeiro.
A análise trouxe que a média dos pacientes acometidos pela síndrome tinha 71 anos, era em sua maioria mulheres (90,5%), com prevalência de dor torácica (63,3%) e histórico de estresse emocional considerável, registrado aproximadamente em 40% dos casos. O relatório completo será publicado no próximo mês nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia da SBC.
Segundo o cardiologista, o mapeamento de casos será importante para identificar como a sociedade irá lidar com o estresse no pós-pandemia.
Estresse emocional na pandemia
A principal característica da síndrome do coração partido é o estresse emocional e situações de perda. Nessa situação extrema de estresse, a pessoa sofre uma descarga grande do hormônio da adrenalina e noradrenalina, que possui a capacidade de aumentar a força de contração do coração, isso causa o mal funcionamento cardíaco.
Durante a pandemia, fatores agravantes podem ter aumentado a incidência de casos. “A perda do emprego ou a falência da empresa, a própria situação de ficar em casa aumenta os níveis de angústia e de estresse. A pandemia trouxe vários outros motivos que podem levar a um estresse emocional”, afirma Felix Ramires, cardiologista do Hospital do Coração de São Paulo.
“Ela se popularizou como síndrome do coração partido porque é possível, sim, morrer por amor. A perda de um grande amor, romanticamente falando, uma traição, pode ocasionar um estresse tão grande que leva a morte”.
O cardiologista Mesquita informou que está acompanhando o aumento de casos em pacientes que testaram positivo para Covid-19 e também em pacientes que não se contaminaram com a doença. “Temos o caso de uma idosa que não foi infectada pelo coronavírus, mas teve que se distanciar da filha por conta da filha. Ela sofreu um infarto pelo afastamento. No caso dos positivos, o estresse aumentou justamente por conta do vírus”.
Semelhanças com o infarto
“Por muito tempo ela foi considerada uma síndrome rara. Depois da década de 90, passou a ser progressivamente mais diagnosticada. Mas ainda temos uma carência em considerar causas emocionais como agravantes em um problema cardíaco. Existe uma grande possibilidade de mortes por Takotsubo serem registradas como infarto ou AVC”, afirma Mesquita.
A síndrome ocorre quando os músculos do coração enfraquecem causando dor no peito, falta de ar, suor e palidez.
“Descartar o infarto faz parte do diagnóstico, as enzimas de um infarto e as síndrome têm um diferença muito tênue. É importante observar também se o paciente tem um histórico de estresse”, afirma Ramires.
Aumento de mortes por doenças cardíacas
Recentemente, uma parceria entre a SBC e a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen-Brasil) permitiu que registros de mortes por doenças cardiovasculares sejam disponibilizados no Portal da Transparência de Registro Civil.
Segundo o portal, o número de óbitos por causas cardiovasculares inespecíficas – que podem incluir mortes por Takotsubo – subiu para 30.380 casos entre 16 de março e 30 de junho, um aumento de quase 24%. No mesmo período em 2019 foram registradas 24.546 mortes.
Segundo Mesquita, a síndrome representa pelo menos 1% dos casos de infarto durante a pandemia e ainda existe a possibilidade de pacientes que tiveram sintomas e não procuraram um hospital.
Fonte: G1